Como hospitais podem evitar condenações indevidas em casos de alegado erro médico

Nos últimos anos, o número de processos envolvendo alegações de erro médico cresceu de forma expressiva no Brasil. Em grande parte dessas ações, os hospitais são acionados judicialmente ao lado do médico, mesmo quando não há indícios concretos de que a instituição tenha cometido alguma falha direta.

Esse cenário gera insegurança para gestores hospitalares, que passam a enfrentar riscos jurídicos relevantes e, muitas vezes, injustos. A experiência prática demonstra que a falta de informação, prevenção e documentação adequada pesa — e muito — no desfecho de um processo.

Este artigo apresenta, de forma clara e acessível, como funciona a responsabilidade civil dos hospitais nesses casos e quais medidas podem minimizar o risco de condenações indevidas.

Afinal, o hospital responde automaticamente pelos atos do médico?

A resposta é: nem sempre. A responsabilidade da instituição pode ser analisada sob duas perspectivas distintas:

Responsabilidade objetiva

Aplica-se quando a falha decorre de algum aspecto ligado diretamente ao hospital, como:

  • estrutura física inadequada;
  • equipamentos defeituosos;
  • falta de insumos ou medicamentos;
  • erro de profissionais do quadro técnico (enfermeiros, auxiliares, técnicos etc.).

Nesses casos, o hospital pode ser condenado independentemente da comprovação de culpa.

Responsabilidade subjetiva

Ocorre quando o suposto erro foi cometido por médico autônomo, sem vínculo direto com o hospital.

Aqui, a instituição só responde se houver prova de que contribuiu para o dano — por exemplo:

  • demora no atendimento;
  • ausência de protocolos internos;
  • falhas de organização ou suporte.

O problema é que, na prática processual, essa distinção nem sempre fica clara. Com isso, muitos hospitais acabam sendo incluídos na mesma lógica de responsabilização atribuída ao médico, sem análise individualizada da conduta da instituição.

Teoria da aparência: quando a responsabilidade recai sobre o hospital

Um dos maiores riscos para hospitais é a aplicação da chamada teoria da aparência.

Segundo entendimento consolidado pelo STJ, se o paciente acredita que o médico integra o corpo clínico do hospital, a instituição pode ser responsabilizada por seus atos – mesmo que o profissional seja:

  • autônomo,
  • eventual,
  • prestador de serviço terceirizado.

Esse risco cresce quando o hospital não deixa claro para o paciente que o médico não faz parte da sua equipe. A ausência de contratos bem estruturados e de comunicação transparente abre margem para condenações indevidas.

A importância das provas e da documentação interna

Em ações de erro médico, a prova técnica (perícia) tem papel decisivo.

No entanto, a falta de organização documental dentro do hospital pode prejudicar gravemente sua defesa.

Entre os problemas mais comuns estão:

  • prontuários incompletos;
  • ausência de registros sobre a autonomia do médico;
  • protocolos falhos ou inexistentes.

Quando a instituição não consegue demonstrar seu fluxo interno e sua conduta, o juiz pode entender que houve responsabilidade do hospital – mesmo que a falha tenha sido exclusivamente do profissional.

Documentação organizada e protocolos claros não são apenas exigências regulatórias: são ferramentas estratégicas de defesa.

Como evitar riscos de condenações indevidas

Algumas medidas preventivas reduzem de forma significativa o risco de responsabilização injusta:

✔ Contratos bem elaborados com médicos autônomos

É essencial que o documento deixe claro:

  • a autonomia técnica do profissional;
  • a inexistência de vínculo direto;
  • os limites da responsabilidade do hospital.

✔ Transparência com o paciente

Informar que o médico não integra o corpo clínico do hospital evita interpretações equivocadas — especialmente sob a ótica da teoria da aparência.

✔ Protocolos internos padronizados

Processos claros garantem:

  • rastreabilidade do atendimento;
  • segurança assistencial;
  • alinhamento entre equipes.

✔ Prontuários completos e organizados

Um registro bem detalhado é muitas vezes o principal elemento de defesa em ações judiciais.

✔ Assessoria jurídica preventiva

Revisar contratos, procedimentos e fluxos internos reduz riscos futuros e fortalece a atuação do hospital em eventuais litígios.

A adoção dessas medidas simples pode evitar problemas sérios no futuro – tanto financeiros quanto reputacionais.

Conclusão

É comum que hospitais sejam condenados por falhas que não cometeram, especialmente quando não possuem mecanismos de prevenção, documentação organizada e protocolos sólidos.

A responsabilidade civil hospitalar é um tema técnico e sensível, mas pode ser conduzido com muito mais segurança quando existe orientação jurídica especializada desde o início. Em diversos casos, a atuação preventiva foi decisiva para evitar condenações injustas e garantir que o processo fosse conduzido de maneira adequada.

O melhor caminho não é esperar a ação judicial chegar – é agir antes, estruturando contratos, protocolos e registros de forma estratégica e alinhada às exigências legais e regulatórias.

Por Bruna Basso – OAB/RS 134.147

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